quarta-feira, 18 de março de 2009

Parque eólico do Alto Minho «preocupado» com lobo ibérico

Este parque eólico foi construído numa zona que afecta três alcateias de lobo ibérico, o que obrigou a medidas especiais de protecção.
Nesse sentido, desde a fase de projecto, a construção do parque eólico, da empresa de energias renováveis Vento Minho, foi acompanhada por uma equipa de investigadores com o objectivo de minimizar as consequências do empreendimento nas alcateias.
Na sequência do trabalho desenvolvido, a planta inicial do projecto acabou por ser modificada, já que alguns dos aerogeradores, respectivos acessos e linhas de transporte de energia coincidiam com dois importantes centros de actividade de uma alcateia, incluindo o seu local de reprodução tradicional.
Para analisar as consequências da perturbação humana provocada pelas obras foi lançado, em Dezembro de 2006, um programa de monitorização do lobo, que está a ser executado pela Associação para a Conservação e Divulgação do Património de Montanha (VERANDA) e pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO).
O trabalho desenvolvido pelos investigadores permitiu concluir, segundo Helena Rio Maior, responsável pelo trabalho de campo, que as obras «parecem ter induzido profundas alterações na utilização do espaço por parte de uma alcateia, que se reflectiram na mudança dos seus centros de actividade».
A bióloga frisou, no entanto, «as alterações nos hábitos da alcateia não inviabilizaram a ocorrência de reprodução na Primavera de 2007».
«Constata-se uma aparente tolerância e adaptação do lobo às alterações provocadas no seu território, para o que pode ter contribuído a aplicação de um conjunto de medidas minimizadoras de impactos», admitiu.
A construção de parques eólicos tem um potencial impacto negativo nas populações de lobos, já que são erguidos no cimo das serras, em zonas habitualmente pouco acessíveis, que aqueles animais utilizam para reprodução e abrigo.
No caso concreto do parque eólico do Alto Minho, são afectadas três alcateias, dedicando os biólogos atenção especial a uma delas, a denominada Alcateia do Vez, que, segundo Helena Rio Maior, «tem demonstrado elevada estabilidade, com evidências de ocorrência de reprodução contínua ao longo da última década».
As investigações realizadas permitiram perceber que «em todas as alcateias afectadas por este empreendimento as alterações ocorridas nos seus territórios não parecem ter comprometido, para já, a sua viabilidade reprodutora».
Paralelamente a este programa de monitorização, está em curso o Projecto de Investigação e Conservação do Lobo no Noroeste de Portugal, também financiado pela Vento Minho, que começou em Março de 2007 e recorre a tecnologias, como a telemetria GPS.
As armadilhas colocadas na serra permitiram capturar o primeiro lobo a 16 de Dezembro de 2007, a quem foi colocado um colar com GPS que permitiu seguir os seus passos até 29 de Fevereiro de 2008, dia em que o animal foi morto em circunstâncias nunca esclarecidas.
Nos últimos meses, a equipa de investigadores conseguiu capturar mais lobos, sendo agora três os animais que andam pelos montes com colares com GPS no pescoço, fornecendo dados importantes sobre a vida e comportamento do último grande predador da fauna nacional.
O mais recente Censo Nacional do Lobo, realizado em 2002 e 2003, revelou a existência de 65 alcateias, num total de cerca de 300 indivíduos.
A população de lobo ibérico tem vindo a sofrer uma acentuada regressão nas últimas décadas, pelo que é considerada uma espécie 'em perigo', protegida por legislação específica.

Posted By Marco Fernandes & Rafael Araújo